sábado, 29 de maio de 2010

No Ponto de Cultura Quilombo de São José, Semussum registra musicalidade e simbolismo da homenagem aos Pretos Velhos

Todos os anos, com a proximidade do dia 13 de maio, os quilombolas de São José da Serra, no município de Valença (RJ) realizam o mesmo ritual: recebem os amigos para uma grande festa em homenagem aos Pretos Velhos, envolvendo toda a comunidade, comunidade amigas e visitantes de todos os lugares. Neste ano, acompanhamos essa festa desde o início, respeitando e nos integrando ao processo com encantamento e respeito a toda a ancestralidade que se evidenciou.

A festa começa com uma missa. Um padre católico conduz o rito, enquanto as músicas tradicionais são substituídas por cantos do quilombo, acompanhada sempre pelos tambores tradicionais dali. No lugar das hóstias, frutas da região são distribuídas para a comunhão. E, na abertura, um cortejo canta a mensagem: “Vamo acabar com essa conversa/ de nego ser inferior”.

Em seguida foi servida a feijoada, regada a samba, calango, e outros ritmos e manifestações, com participação de vários grupos e dos visitantes. Chama a atenção a quantidade de pessoas dedicadas ao registro da festa em vídeo, audio e fotos, muitas fotos. Profissionalmente ou não. Houve momentos em que era até difícil tirar uma foto sem enquadrar outro fotógrafo.

Em nosso trabalho por lá, focamos em dois tipos de registro: o registro em vídeo com cenas e entrevistas com diversas pessoas que estava por lá; e registros de trechos de áudio para edição e inclusão no CD e DVD Semussum Brasil. O registro de áudio foi feito ao vivo, enquanto a festa se desenrolava. Foi importante a participação de jovens da comunidade, que acaba de receber os equipamentos de seu Ponto de Cultura. Juntos montamos uma aparelhagem de som para gravação e amplificação das apresentações na festa.

Um momento emocionante é o acendimento da fogueira, que é benzida por mãe Têtê, matriarca da comunidade. Neste momento toda a família do quilombo se reuniu em uma roda voltada para a fogueira, cantando para reforçar a benção à fogueira e a todos os presentes. A música conta a história da própria fogueira e sua feitura. O calor dela embala o resto da noite, enquanto continua o jongo e também o forró.

Usamos o espaço de camping para montar barracas e guardar os equipamentos. Também houve oportunidades para conhecer a área, que inclui cachoeiras, riachos com água gelada, as casas da comunidade, separadas por trilhas com escadas de pedras e árvores, muitas antigas. A família do quilombo recebeu a todxs com muita alegria e gentileza, mostrando alguns do valores que permeiam a continuidade da comunidade, com suas crenças e festas simbolizando e sustentando sua cultura.

Mais fotos tiradas na festa podem ser vistas no Picasa Sambada de Coco, clicando aqui.

Semussum participa de oficina de rádio no Quilombo do Campinho da Independência

A equipe da Semussum Brasil participou da oficina de rádio promovida conjuntamente pela Associação de Moradores do Quilombo do Campinho, Projeto Semussum Brasil, Rede Mocambos, Rádio Amnésia e I-Mutirô, no Quilombo do Campinho da Independência. Nos dias 12 e 13 de maio o Quilombo, que fica no município fluminense de Paraty, recebeu em sua sala de cultura digital as experiências de atuação da Rádio Amnésia, com a transmissão de programas ao vivo com participação de mestres griôs, lideranças, jovens e crianças moradorxs da comunidade. Tudo utilizando o equipamento recém adquirido através de convênio, e que já está em funcionamento no local.

Junto com a oficina foram realizadas sessões de gravação da Semussum Brasil, registrando manifestações musicais locais. Uma delas foi o rap do grupo Realidade Negra, composto por jovens moradores do quilombo, que gravaram faixa inédita que deverá entrar no álbum do projeto. A outra foi a gravação de músicas do Jongo do Quilombo do Campinho. O jongo sempre fez parte da cultura da comunidade, e teve sua prática reforçada com a atuação de Laura, liderança da comunidade, que fez a voz solo durante as gravações.

A experiência no quilombo foi muito boa, não só pela oficina e as gravações, mas pelo ambiente da comunidade e arredores. A comunidade é bem organizada e foi muito gentil e receptiva, permitindo e participando dos registros e das atividades. É também um bom exemplo de organização comunitária para o trabalho, com o desenvolvimento da proposta de turismo comunitário estimulando o artesanato, a culinária e outras atividades econômicas, e envolvida fortemente com o movimento quilombola brasileiro. Há uma harmonia na convivência com a natureza, que apresenta muita beleza, e mostra o tempo todo as inspirações que inspiram os modos de viver e se expressar dos moradores do local.

As fotos das atividades podem ser conferidas aqui, no Picasa Sambada de Coco, do Centro Cultural Coco de Umbigada, assim como as demais sessões do projeto.